Os primeiros dados estatísticos sobre a comercialização de aves e ovos no Brasil remontam o ano de 1860. O Estado de minas Gerais, grande exportador de laticínios e de aves para o consumo, demonstrou com dados estatísticos oficiais, a idéia pioneira sobre comercialização destes produtos no Brasil que exercerá forte influência no desenvolvimento econômico durante a metade do século XIX e principio do XX. Em 1860/61 a quantidade exportada por Minas Gerais era de apenas 40mil quilos de aves vivas. Em 1910, depois de quarenta anos de atividade, esse total saltou para 3.123.000 quilos. É de se ressaltar inclusive que a exportação dobrou de 1901 em diante, com um aumento anual médio de 250.000.quilos.
Já as exportações registradas em 1904 no Rio de Janeiro, dão conta de um total de 1.047.446 quilos de aves vivas. Em 1911 a venda atingiu 1.568.231 quilos um incremento de 40%.
E a propósito de mercado assim comenta um colunista da época: "É incontestável verdade que as galinhas que mais produzem são aquelas que nós chamamos ordinárias ou comuns, e que por isso, talvez não lhes demos o tratamento que elas exigem para bem produzir. Todas as raças finas, de galinhas produzem pouco e demais, são caras; por isso quem pretender mercantilizar neste ramo de indústria deve procurar sempre o que mais produz, e o que menos trabalho dá." Lyryo Ferdinand em artigo na revista Chácaras e Quintais de 1931 (extraído da obra de Osny Arashiro - A historia da avicultura do Brasil).
Segundo os historiadores com a introdução das raças de galinha asiáticas e orientais, durante o período colonial, a galinha da terra, que era formada basicamente pela leghorn européia, foi se transformando e deu origem assim à vulgarmente conhecida como galinha crioula. Dessas misturas foram individualizadas cerca de cinco raças todas de origem duvidosa. A galinha de MACAÉ é uma delas. Ela viveu no Estado do Rio de Janeiro, e, apesar da consangüinidade existente entre os diversos cruzamentos, conservou-se sob o mesmo aspecto e manteve as qualidades que a tornaram apreciável. Uns julgavam-na um resultado da crioula com vários cruzamentos nos quais predominou a Leghorn. Outros a consideravam uma degeneração da raça importada durante o descobrimento do Brasil.
Outra raça também originária do Rio de Janeiro era a CABU, de plumagem azul ardósia, que pelas características faziam lembrar uma ascendência andaluza.
Já em Santa Catarina originou-se o GALO-GALINHA possivelmente descendente do Indian Game, um cruzamento das raças procedentes da Ásia. Outra raça, a CARIOCA, é descrita como uma raça genuinamente brasileira. Ela obedecia mais aos padrões malaios, cuja infusão de sangue tanto influiu na formação da galinha crioula no Brasil. Foi conhecida em Portugal pelo nome de raça da Bahia.
E os estudos não param por aí. Eles revelaram a existência de uma outra variedade da CARIOCA conhecida como URUBU, uma ave pouco robusta, portanto não utilizada para combates. De carne arroxeada, mais empenada, era bem conhecida no norte e nordeste do país, sobretudo Ceará e Pernambuco.
E outros documentos históricos do inicio do século XX notificam ainda uma outra variedade de galinha que poderia ser considerada tipicamente caipira.
Conhecida como CATTETE, tinha o corpo pequeno, penas muito lisas, pernas nuas, quatro dedos, crista muito baixa, cabeça pequena e cauda fina. Dizem os documentos que elas eram muito espertas, andavam sempre procurando alimento pelo chão e cantarolavam o tempo todo. Punham poucos ovos, mas os galos eram bons de briga como aqueles de raça espanhola, famosos na época. Era também a melhor raça para quem criava pra vender porque era boa de engorda. (Osny Arashiro, A historia da avicultura do Brasil).
Era outubro de 1927. O editor da revista "Chácaras e quintais", questionado por um leitor por colocar um galo leghore na capa da revista que anunciava uma grande exposição de café respondeu assim ao leitor:
"O oceano dos cafeeiros é um monumento de monotonia parada. Até hoje não se lembrou o fazendeiro de associar à lavoura cafeeira a movimentada indústria avícola. Entretanto se há lugar onde a criação de galinhas podia dar os maiores lucros é justamente no cafezal".
E explicou ao leitor:
"A galinha livrará o cafezal de suas pragas e se alimentará de abundante vitamina, em outras palavras, a galinha transformará as prejudiciais pragas em rendosos ovos! Desde que o fazendeiro se convença que criando galinhas, no cafezal só pode auferir lucros"...
Segundo os historiadores coube à galinha a honra de ser um dos primeiros animais domésticos a chegar ao novo continente. Inclusive mereceu citação especial na célebre carta em que Pero Vaz de Caminha, escrivão da armada cabralina, narrava às novidades da região.
Ancorada próxima dos recifes de Porto Seguro, a nau capitânia foi visitada, na noite de 24 de abril de 1500, por dois jovens aborígines, trazidos de terra por Afonso Lopes.
Escreveu Caminha:
"Mostraram-lhes um papagaio pardo que o capitão traz consigo. Tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como quem diz que os havia ali. Mostraram-lhes um carneiro, não fizeram caso. Mostraram-lhes uma galinha, quase tiveram medo dela, não lhe queriam pôr a mão, e depois a tomaram como que espantados".
Segundo as mesmas fontes, não se pode afirmar que os portugueses tenham deixado, nessa primeira viagem, quaisquer animais domésticos no costa da Bahia. É certo, porém, que em 1503, a expedição exploradora de Gonçalo Coelho, que percorreu a costa brasileira até a baia do Rio de Janeiro, trouxe casais de galinhas e mudas de plantas úteis. Onde se localiza hoje a praia do Flamengo, o capitão português fundou uma feitoria, que possuía até uma casa de pedra, logo alcunhada de "Carioca" pelos tamoios da região. As aves deixadas em terra, aclimatando-se perfeitamente, passaram a se multiplicar.
Já em dezembro de 1519, quando Fernão de Magalhães no transcurso da épica viagem de circunavegação da Terra, aportou no Rio de Janeiro, para refazer as provisões de suas naus, encontrou galinhas em quantidade. (extraído da obra de Osny Arashiro,"a história da avicultura do Brasil").
Pouco se sabe sobre a origem das primeiras galinhas a chegar ao Brasil.
Sabe-se que eram espécimes de origem mediterrânea, pertencentes ao mesmo grupo de galinhas ibéricas, italianas e norte africanas. Segundo os escritos da época tratava-se da galinha comum européia. A mais conhecida era a raça Brown Leghorn que foi cruzada com outras raças orientais e asiáticas introduzidas no país ainda na época colonial. Este cruzamento deu origem à galinha crioula. Certas raças, como a de Málaca, influenciaram decisivamente na formação do típico "mestiço" brasileiro. A mescla de sangues asiáticos e orientais, com o das galinhas comuns, deu origem a certas raças brasileiras que mais tarde foram conhecidas como galinha caipira.
O nome se deve à cor das penas. Carijó, ou kari'yo, como diziam os índios na língua tupi, quer dizer procedente do branco, ou preto salpicado de branco. Também é conhecido como pedrês, por causa da cor.
A plymouth rock barrada, é originária de New Jersey , EUA. Ela foi apresentada pela primeira vez numa exposição avícola em Boston, em 1849 e chegou ao Brasil nas primeiras décadas deste século.
A sua característica barrada foi o resultado de uma seleção de genes ligados aos cromossomos sexuais inibidores da presença de melanina (cor preta) em áreas transversais nas penas. A variedade branca da raça plymouth rock, cruzada com a cornish inglesa, excelente produtora de carne, foram a base, durante a década de 60, na formação do atual frango de corte que, ao ser produzido em escala industrial, revolucionou a avicultura no mundo. Agora, com a revalorização dos produtos naturais, a plymouth rock é a base do novo carijó.
Caipiras melhoradas, galinhas rústicas ou simplesmente caipiras. Um ponto de equilíbrio entre o passado e o futuro, entre rusticidade e produtividade. A velha galinha, chamada vulgarmente de pé duro ou pé sujo dos terreiros, cedeu lugar à nova caipira e viabilizou uma forma alternativa de criação também conhecida como avicultura alternativa. O frango carijó ou colorido alternativo, melhorado mediante cruzamento de varias raças e com características rústicas, pode ser considerado hoje a melhor opção para pequenos produtores cansados de insistir na galinha caipira de fundo de quintal, economicamente inviável por ser pouco produtiva, ou ainda sem condições de montar um plantel de frangos industriais. A caipira de hoje é na verdade uma complexa combinação genética de carijós legítimos, remanescentes dos primeiros plymouth rock introduzidos no país com outras raças rústicas, como a new hampshire e rhode island red (responsáveis pela transmissão da cor vermelha nos ovos) e outras raças de frango de corte.
Uma outra protagonista neste mundo da avicultura alternativa são as francesas de pescoço pelado ou francesas coloridas, que chegaram ao Brasil há cerca dez anos e conhecida como label rouge. Na verdade label rouge, o selo vermelho, foi criado em 1965 como garantia de um produto agrícola de qualidade superior tanto do ponto de vista do paladar quanto no que diz respeito às condições de produção, processamento e comercialização. A conhecida galinha caipira francesa foi desenvolvida pelo Instituto de seleção Avícola da França, o ISA, um dos maiores centros de pesquisa genética do mundo e possui as características básicas exigidas por esse novo nicho de mercado: é uma ave pesada, que atinge 1,80 quilos em 70 dias; é forte para viver a campo ou semi-confinada e sua dieta é um cardápio misto de pasto e ração. Muitos a conhecem como galinha caipira, mas esta definição é contestada por muitos especialistas que a consideram uma raça específica ou linhagem genética, como por exemplo, o frango amarelo de pescoço pelado criado na região de Landes e o poulet fermier du Périgord, uma ave vermelha, de aspecto muito semelhante a algumas linhagens de poedeiras existentes no Brasil. As duas linhagens são criadas de acordo com as exigências do Label rouge.